Por Marina Sequinel
O diretor do Instituto Médico Legal (IML) do Paraná, o médico Carlos Alberto Peixoto Baptista,
reconheceu que as condições do local são precárias. No momento, 140
corpos lotam a câmara fria, espaço com sistema de refrigeração,
aguardando liberação para serem enterrados.
“Todo mês, o IML realiza de 300 a 400 perícias por mortes violentas.
Desses casos, de 20 a 30 corpos não são reclamados pelas famílias. Ou
seja, o acúmulo é muito grande. Os cadáveres que se encontram hoje no
local estão em prateleiras e em estrados no chão. Infelizmente, não
temos como colocar um a um em cada suporte em um espaço que tem
capacidade para 70 a 80 pessoas. Ninguém está feliz com essa situação”,
disse Baptista em entrevista ao radialista Geovane Barreiro no Jornal da Banda B 2ª Edição.
As condições do local vieram à tona depois que ouvintes entraram em
contato com a reportagem na manhã desta quarta-feira (27). Eles
denunciaram o caso do corpo de um andarilho que ficou três dias em uma Unidade de Saúde esperando pelo sepultamento.
Diante da situação, o diretor explicou os procedimentos tomados pelo
IML a partir do momento em que um corpo é recebido. “Primeiramente, nós
preservamos o material biológico para identificação e remetemos os
papéis para o Ministério Público e Tribunal de Justiça. Depois que eles
são aceitos, encaminhamos ao serviço municipal para que os corpos sejam
enterrados. Dos 140 que temos hoje, 30 já possuem determinações
judiciais para o sepultamento, que deve acontecer na próxima semana.
Enquanto isso, os outros 110 estão sendo analisados”, completou.
Segundo ele, o principal empecilho não está na esfera judicial, mas
sim na municipal, já que a prefeitura de Curitiba arca sozinha com os
enterros, mesmo que os corpos sejam da região metropolitana (RMC). “As
pessoas precisam entender que a finalidade do IML não é guardar
cadáveres. Nós precisamos fazer a perícia e liberá-los para a família.
Só que, quando não há parentes, o morto passa a pertencer ao município.
E, com a alta demanda, há momentos em que a prefeitura, sozinha, não tem
condições de nos fornecer locais para os enterros”.
É por isso que, de acordo com ele, seria importante a colaboração dos
serviços dos municípios da RMC. “Se cada cidade nos oferecesse um ou
dois lugares, já nos ajudaria bastante. Em relação a isso, nós já
estamos conversando com departamento de Epidemiologia da capital, com as
secretarias de saúde da RMC e a Secretaria de Segurança Pública do
Paraná”, comentou Baptista.
Corpos empilhados
Hoje, o IML conta com 140 corpos, isolados em sacos plásticos,
empilhados em prateleiras e amontoados no chão. “A situação é complicada
e nós como profissionais da saúde não podemos esquecer que se tratam de
pessoas. Quando acontece uma acumulação como essa, muitas vezes, para
retirar um corpo, temos que remover outros 40. Por isso, a câmara
frigorífica é aberta e fechada o tempo todo, então vai ter chorume e mau
cheiro na vizinhança. Nós nos preocupamos muito com isso”.
Uma nova sede do IML no bairro Tarumã, prevista para ser concluída em
fevereiro do ano que vem, terá a capacidade de armazenar de 150 a 200
corpos. No entanto, segundo o diretor, só isso não resolverá o problema.
“A nossa expectativa é muito grande, porque teremos espaços limpos e
adequados para a prática de exames. Mas, repito, precisamos também de
ajuda dos outros municípios para conseguir locais para os enterros”,
finalizou.
Outro lado
Pela manhã, a assessoria da Prefeitura de Curitiba informou, por meio
de nota, que há vagas abertas para sepultamentos na capital e depende
apenas do acionamento do IML para recolher os corpos.
A nota diz: “A Prefeitura de Curitiba faz os sepultamentos
gratuitos para famílias carentes e está com todos os pedidos
protocolados atendidos (não há nenhuma pendência). Os pedidos são feitos
pelo IML, através de ofício, que – depois de autorizado pelo Serviço
Funerário Municipal – precisa de alvará judicial para que o sepultamento
aconteça. Só nesta semana vão ser abertas mais 60 vagas para
sepultamentos sociais, que – além de atender famílias de baixa renda
residentes em Curitiba (obrigação do município) – também atendem pessoas
não reclamadas (indigentes) de Curitiba e outros municípios. Curitiba
passou de 0,3% de funerais gratuitos, em 2012, para cerca de 13% em
2016. Só neste ano, já foram feitos 5498 funerais sociais na capital”, diz a prefeitura de Curitiba.
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